segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Aída - alguém se lembra

Aos 24 anos, Aída dos Santos foi a única mulher na delegação brasileira que seguiu para Tóquio.

Além da falta de companheiras, ela também sofreu com a falta de apoio, já que ninguém acreditava que pudesse conseguir um bom resultado. Mesmo antes do embarque, ela teve de contornar até a falta de uniforme. Como confirmou sua vaga menos de uma semana antes do embarque, teve de recauchutar uma roupa que havia usado na disputa do Ibero-americano, no ano anterior, que era semelhante ao da delegação olímpica: saia cinza, paletó azul e camisa branca.

Já em Tóquio, foi sozinha ao estádio olímpico e comprovou sua solidão ao chegar ao vestiário, quando viu que suas adversárias tinham técnico, massagista, preparadores, até agentes. Sem qualquer identificação verde-amarela na roupa, ficava difícil para as adversárias saberem de onde ela era.

"Achavam que era de algum da país África", recorda a única negra de um país latino-americano na final.

Para chegar até a fase decisiva, ela saltou exatamente 1,70m, o índice inicial das eliminatórias. No Brasil, ela nunca havia ultrapassado 1,68m. Conseguiu a marca, mas acabou torcendo o pé. Aída explicou, dizendo ter estranhado as boas condições da competição. "Estava acostumada a cair na areia no Brasil. Aqui, já tem espuma."

Ajudada por médicos cubanos, ela pôde saltar a final. Começou com 1,70m, 1,72m e 1,74m. Não conseguiu superar o sarrafo colocado a 1,76m e viu as representantes russa, australiana e romena (Iolanda Balas, campeã com 1,90m) ficarem com as medalhas. Terminou em quarto lugar numa final com doze atletas. De quebra, bateu o recorde sul-americano.

Quatro anos depois, nos Jogos do México, foi saltar a pedido de um fotógrafo mexicano e torceu o pé esquerdo e precisou ser hospitalizada. Não se conformou com a situação, fugiu do hospital e foi para a Vila Olímpica.
Decidida a saltar de qualquer jeito, teve de assinar um termo de responsabilidade exigido pelo chefe de missão da delegação brasileira, Ivan Raposo. Terminou em 20º lugar, mas quebrou o recorde sul-americano.

Não foi aos Jogos de Munique/72. Segundo ela, foi cortada porque falou demais, e contou em um programa de TV as dificuldades que enfrentou no Japão.

Os homens invisiveis do Brasil

Às
vezes andando nas ruas de Copacabana, me sinto como um fantasma.

Estou ao lado das pessoas, mas percebo que sou uma incômoda presença. Quase os atravesso, q

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Cidadãos de bem, velozes, em suas avenidas mentais. O último tênis, o último corte de cabelo, estão apenas cuidando de si. Ilhas e ilhas.

Ah, como queira que aquele menino com suas bolas de tênis nos surpreendesse com a sua habilidade no saibro. Gugas negros.

Somos milhões. E somos etéreos como o ar, por que como maioria, apenas assim podem nos ser indiferentes. Não pesamos quase nada ( e somos milhões!), nos adaptamos a quaisquer situações ("nós faz tudo dotô!).

Cidadãos de bem. Vejo milhares passarem por mim, e mesmo tendo cumprido um verdadeiro roteiro de cinema eu não estou aqui.

Me olho no espelho da vitrine da loja da esquina. Muito jovem, nem mesmo eu me vejo na minha novela das oito.

Afinal quantos protagonistas negros eu já havia visto?

Um segundo, um milímetro e agarro aquela bolsa, dou um piparote naquele guarda, dou um aú e uma rasteira naqule velhinho. Ah, um arrastão! Um mar como eu, em disparada, algazarra, que meninada!

Mais uma vez quase desisto de tudo. Estou descumprindo o papel que está tatuado em minha pele. Sou um marginal. O fato de estar em condicional não altera o meu crime.