Aída - alguém se lembra
Aos 24 anos, Aída dos Santos foi a única mulher na delegação brasileira que seguiu para Tóquio.
Além da falta de companheiras, ela também sofreu com a falta de apoio, já que ninguém acreditava que pudesse conseguir um bom resultado. Mesmo antes do embarque, ela teve de contornar até a falta de uniforme. Como confirmou sua vaga menos de uma semana antes do embarque, teve de recauchutar uma roupa que havia usado na disputa do Ibero-americano, no ano anterior, que era semelhante ao da delegação olímpica: saia cinza, paletó azul e camisa branca.
Já em Tóquio, foi sozinha ao estádio olímpico e comprovou sua solidão ao chegar ao vestiário, quando viu que suas adversárias tinham técnico, massagista, preparadores, até agentes. Sem qualquer identificação verde-amarela na roupa, ficava difícil para as adversárias saberem de onde ela era.
"Achavam que era de algum da país África", recorda a única negra de um país latino-americano na final.
Para chegar até a fase decisiva, ela saltou exatamente 1,70m, o índice inicial das eliminatórias. No Brasil, ela nunca havia ultrapassado 1,68m. Conseguiu a marca, mas acabou torcendo o pé. Aída explicou, dizendo ter estranhado as boas condições da competição. "Estava acostumada a cair na areia no Brasil. Aqui, já tem espuma."
Ajudada por médicos cubanos, ela pôde saltar a final. Começou com 1,70m, 1,72m e 1,74m. Não conseguiu superar o sarrafo colocado a 1,76m e viu as representantes russa, australiana e romena (Iolanda Balas, campeã com 1,90m) ficarem com as medalhas. Terminou em quarto lugar numa final com doze atletas. De quebra, bateu o recorde sul-americano.
Quatro anos depois, nos Jogos do México, foi saltar a pedido de um fotógrafo mexicano e torceu o pé esquerdo e precisou ser hospitalizada. Não se conformou com a situação, fugiu do hospital e foi para a Vila Olímpica.
Decidida a saltar de qualquer jeito, teve de assinar um termo de responsabilidade exigido pelo chefe de missão da delegação brasileira, Ivan Raposo. Terminou em 20º lugar, mas quebrou o recorde sul-americano.
Não foi aos Jogos de Munique/72. Segundo ela, foi cortada porque falou demais, e contou em um programa de TV as dificuldades que enfrentou no Japão.