quinta-feira, 28 de junho de 2007

Cotas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul










Em:

http://ufrgsprocotas.noblogs.org/








Claudia Fonseca (antropóloga, professora do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da UFRGS, Núcleo de Antropologia e Cidadania)

"Brasil não é um país racista", ouvi na televisão ontem de um professor da UFRGS se manifestando contra cotas raciais. Que alívio, penso eu. Então o fato de brancos no Brasil viverem na média seis anos mais do que negros deve ser conseqüência de algum problema físico desses "outros".

Brasil "não tem segregação racial", leio numa coluna de opinião contra as cotas. Que bom. Aquela porção (quase o dobro dos brancos) que vive amontoada nos aglomerado subnormais deve refletir um gosto cultural pela vida simples. "Não há prova estatística impedindo a ascensão social de negros", leio de outro autor escrevendo contra cotas. Que consolo pensar que aquele grande número de negros vivendo abaixo da linha de pobreza ( 46.8% contra 22,4% dos brancos) deve ser porque eles simplesmente não se esforçam mais! Quanto à universidade, já que temos o vestibular para dar um atestado de neutralidade ao sistema meritocrático, devemos reconhecer que a falta de estudantes negros reflete não a discriminação racial, mas, sim, o quê? Uma inteligência inferior? Claro que não, pois esse seria um argumento racista. Não há negros na universidade, os anti-cotistas explicam, simplesmente porque esses postulantes ao vestibular têm menos anos de estudo do que os brancos e em escolas de pior qualidade. Seguindo essa lógica, a solução não é encontrar mecanismos para corrigir distorções e incluir esses historicamente prejudicados indivíduos na educação superior. É esperar que o sistema de educação fundamental melhore (ou se alguém está com pressa, que mude de bairro e entre numa escola de qualidade!).

Perdoem o tom irônico desse texto – mas fico pasma com esses argumentos pois, ao meu ver, revelam uma lógica profundamente racista. Pergunto – se não existe racismo no Brasil, como explicamos que, casualmente, os negros são os mais pobres, os mais doentes, os menos escolarizados da população? Se não é por causa da discriminação racial, deve ser por incompetência mesmo.... Quanto à questão do "racismo institucional", podem me explicar por que a porcentagem de negros no sistema prisional continua a bater todos os recordes? Além do "mero" efeito da pobreza desproporcional entre negros, pesquisadores como Sergio Adorno já demonstraram que, diante de acusações semelhantes, o réu negro é preso e condenado com muito mais freqüência do que seu cúmplice branco...

Aliás, é difícil entender como os anti-cotistas podem se abraçar aos argumentos sofistas de um jornalista, Ali Kamel, já amplamente criticado por sua total incompreensão da estatística (ver Luis Nassif ) quando os estatísticos mais qualificados do pais, trabalhando no IBGE e PNUD chegam a conclusões completamente opostas.

É como se os anti-cotistas estivessem comprando integralmente a noção da "democracia racial" – mito cunhado por Gilberto Freyre e já amplamente criticado por cientistas sociais durante esses últimos trinta anos. Claro que não existe segregação racial ou racismo no Brasil – do ponto de vista dos brancos que já têm acesso às benesses do ensino superior. Esses não têm preconceito contra "pessoas de cor", desde que elas aceitem se conformar ao lugar delas indicado pelas regras "universais" de nossa seleção. Será que algum jovem afro-brasileiro já mostrou ressentimento pelo fato de que não encontra praticamente nunca um médico ou dentista negro? De que, conforme o IBGE, o negro brasileiro, em 2000, ganha na média a metade do que ganhava o branco brasileiro em 1980 (com valores corrigidos)? De que um colega branco tem mais de cem vezes as chances de entrar na universidade (obrigada André). Bem – talvez haja um pouco de ressentimento – mas esse ressentimento não é nada em relação ao ódio racial que os brancos vão sentir se imaginam que algum negro está "burlando" o sistema (que sempre funcionou tão bem!) e passando na frente da fila. É assim que devemos entender o argumento dos anti-cotistas?

Se a maioria desses argumentos soam absurdos, há alguns que expressam uma dúvida compreensível. Será que cotas na universidade pública vão servir para combater a discriminação racial e desigualdade social no Brasil? É evidente que, nessa sociedade complexa, não é possível prever todas as variáveis que vão influenciar os resultados – positivos e problemáticos – das cotas. É também evidente que uma política isolada não surtirá por si só grande efeito. Por outro lado, a situação atual é intolerável para qualquer cidadão consciente do grau de desigualdade (racial e social) em nosso país.

Já existem mais de trinta instituições no país experimentando diferentes formas de cotas e, ao que tudo indica, não ocorreu nenhum cataclismo. Na grande maioria de casos, as cotas não semearam conflitos raciais entre os estudantes, não provocaram a perda de prestígio, nem a repentina degringolada de qualidade do ensino superior. Em outras palavras, a experiência com cotas – tal como a experiência com cotas para mulheres, indígenas,"nordestinos", ou qualquer outra categoria -- rende resultados diversos que valem a pena ser observados, analisados para reconhecer erros e ir aprimorando o sistema. Mas, para tanto, temos que ter a coragem de ensaiar novas políticas. A luta contra o assustador status quo tem que começar em algum lugar. E onde melhor do que numa instituição que se preza por sua reflexão crítica e politicamente engajada?

quinta-feira, 21 de junho de 2007

No site da BBC:

Genética alimenta polêmica sobre 'raças' no Brasil


Teste de DNA ajudam a identificar origens
Uso de testes de DNA para discutir conceito de raça é polêmico
Pesquisas genéticas recentes, que mostram o intenso grau de miscigenação do brasileiro, têm alimentado o debate em torno da definição de "raças" na sociedade brasileira.

O termo já é evitado na genética hoje em dia por ser considerado impreciso e pelo uso político que se fez dele no passado, mas ainda é usado como categoria sociopolítica - o IBGE, por exemplo, divide a população brasileira em pretos, brancos, pardos, indígenas ou amarelos.

Críticos do uso dessas categorias dizem que, especialmente no Brasil, a miscigenação foi tão intensa que uma pessoa considerada preta pode ter a mesma composição genética de um "branco" e vice-versa.

Mas há quem acredite que a classificação é válida.

"Raça no Brasil é uma categoria política: negro é quem é tratado como negro", afirma o advogado Hédio Silva, ex-secretário de Justiça do Estado de São Paulo. "Ninguém pede a carta genética da pessoa para discriminar."

Segundo ele, usar exames de DNA para demonstrar que do ponto de vista genético é mínima a diferença entre brancos e negros passa pela estratégia de "humanizar" os negros, coisa que, na sua avaliação, vem sendo tentada sem sucesso no Brasil há cem anos.

Para Silva, basear-se na biologia para desqualificar a noção de raça no Brasil é um "despropósito", comparável a perguntar a um nazista se a perseguição aos judeus tinha base científica, ou se a ciência tinha definição para quem foi queimado como bruxo pela Inquisição.

O advogado vê na tentativa de "desracializar" o Brasil um desserviço às políticas de ação afirmativa que, segundo ele, estão dando certo nos locais do país em que já são implementadas.

"Eu concordo com esse ideal utópico de uma sociedade desracializada. Mas para atingir isso precisamos ter o reconhecimento de que o legado africano não é inferior, nem menos complexo ou sofisticado do que o europeu. A gente afirma a raça como uma estratégia para no futuro falarmos em outra coisa."

Silva se mostra otimista com a formação da primeira leva de beneficiados pela política de cotas, hoje adotada em 40 universidades, e acredita que, se bem aplicado, o instrumento das ações afirmativas pode ser dispensado no tempo de duas gerações.

domingo, 17 de junho de 2007

SAO PAULO (?) FASHION WEEK - É UM,A VERGONHA ?!

VERGONHA!!!!!!!!???????????

VOCÊ DECIDE!

"No Fashion Rio, o exército de modelos brancas que dominava os desfiles surpreendeu o britânico Michael Roberts, editor da revista Vanity Fair, para quem 'o Brasil deveria aproveitar mais sua diversidade'. 'É uma vergonha', disse."
(e os brasileiros o que pensam?)














Vejam esta reportagem.

Não devemos esperar que a SP Fashion Week, agregue elementos negros. Devemos nos organizar e mostrar o nosso papel de liderança.

Achamos lógica (porem enganosa) a justificativa de que os negros (ou pelo menos os "bronzeados") não consumam a moda mais sofisticada. A lógica se ancora na distribuição da renda. Mas esta, cai por terra quando vemos os premiados comerciais de margarina e sabonete.
Certamente, somos os maiores consumidores de pão com margarina e sabonetes populares.
Queremos deixar de ser invisíveis.


Falta de modelos negros espelha preconceito, diz Camila Pitanga

15/06 - 22:57 - Reuters

or Fernanda Ezabella SÃO PAULO (Reuters) - Camila Pitanga, sexta atriz da TV Globo a desfilar no São Paulo Fashion Week, foi uma das raras modelos negras, embora não seja profissional, a pisar na passarela desta edição.

Pitanga foi a estrela de dois desfiles nesta sexta-feira, de Fabia Bercsek e Cori, assinada por Alexandre Herchcovith.

Além dela, só havia mais uma modelo negra no casting da Cori.

'Acho que (a falta de modelos negros no SPFW) espelha essa resistência, esse preconceito que infelizmente ainda está presente na nossa sociedade', disse a atriz à Reuters no backstage da Cori.

A fraca presença dos negros nos desfiles de moda no Brasil voltou ao debate na quinta-feira, após a apresentação da nova grife AfroReggae, que usou um casting 100 por cento negro.

Segundo seu estilista, Marcelo Sommer, a coleção da grife era inspirada na cultura negra e por isso a escolha dos modelos, entre amadores e profissionais.

'Existe uma carência gigante de modelos negros no Fashion Week. E ficamos impressionados com a quantidade de modelos negros que achamos', disse Sommer.

Para Herchcovith, o problema é outro. 'A oferta de modelos negros é menor', disse. 'São as agências (de modelos) que têm que fazer um trabalho maior para recrutar mais negros, não acho que é culpa do estilista.'

Herchcovith negou que haja preconceito no mundo da moda e classificou Pitanga, que será garota da campanha da Cori, como a 'personificação da mistura de raças que é o Brasil', disse.

'Acho que a beleza dela é muito brasileira.'

O agente de modelos Bruno Soares explica a polêmica pela ótica financeira, afinal de contas, quem consome as grifes que desfilam no SPFW é uma maioria branca, de classe social mais alta.

'Além do preconceito racial, o preconceito social é muito mais forte', disse. 'Na França, eles colocam um monte modelos asiáticas porque a Ásia virou um grande investidor, por exemplo.'

No Fashion Rio, o exército de modelos brancas que dominava os desfiles surpreendeu o britânico Michael Roberts, editor da revista Vanity Fair, para quem 'o Brasil deveria aproveitar mais sua diversidade'. 'É uma vergonha', disse.

domingo, 10 de junho de 2007

VEJA: Raça ou não raça? Ensaio sobre a cegueira à brasileira




Confira a opinião de Veja. http://209.85.165.104/search?q=cache:vO5HCQEBkfEJ:veja.abril.com.br/060607/p_082.shtml+veja+raca&hl=pt-BR&ct=clnk&cd=2&gl=br&client=firefox-a


A revista Veja é a revista de maior circulação do Brasil.
No entanto, quando se trata do tema racismo, sempre trata de maneira superficial e é contra qualquer análise mais profunda e que levante opiniões diferentes sobre o tema.
Um exemplo claro é a última capa ( ediçao 2011, 6 de junho de 2007). A revista pinça um tema polêmico (cotas, elegibilidade às cotas) para desmontar a realidade. Ela simplesmente afirma que não existe racismo no Brasil por sermos miscigenados.
Ou seja, um discurso que deveria oferecer alternativas para a situação real (o extremo racismo á brasileira, a "docilidade" do nosso preconceito, do nosso quarto de empregada e elevadores de serviço) apenas destrói um mecanismo que pelo menos admite a existência de um problema.

Devemos nos perguntar:

  • por quê a revista nega uma situação que o próprio governo brasileiro admite (existe racismo no Brasil)?
  • por quê a revista expõe em sua capa um tema que não ocupa as suas principais preocupações e estímulo ao debate?
  • por quê a revista expõe um viés editorialista e não jornalístico para este tema? Onde estão as opiniões e fatos?
  • por quê a revista não publicou testemunhos de personalidades negras sobre o tema? quem escreveu esta reportagem?
A revista está correta em questionar os métodos de seleção devido às cotas. No entanto, não está correta em apenas se introduzir no debate do racismo para atacar apenas um ponto.

Não seria jornalisticamente correto, chamar casais reais, ou pesquisadores sobre a afirmativa:

"Enquanto em alguns estados americanos o casamento entre brancos e negros era proibido, no Brasil é um fato do cotidiano que não causa nenhuma atenção."

Ou ainda:

"Depois de Freyre, a miscigenação racial foi sendo gradualmente aceita até se transformar, hoje, num valor cultural dos brasileiros. A música popular, por exemplo, não cansa de festejá-la. O país tem orgulho da beleza de suas mulatas. "
Desafio a revista a comparar as beldades mulatas e não-mulatas na mesma edição. Cabe uma reflexão ou não?


Será que estamos tão avançados assim?

segunda-feira, 4 de junho de 2007

ILDI: Ninguém sabe como me definir, diz atriz negra e '70% européia' -Brasiligual sabe: Brasileira!

No Site da BBC.com.br:

A atriz Ildi Silva, que interpreta Yvone na novela Paraíso Tropical, é mais de 70% européia, segundo exames de DNA feitos a pedido da BBC Brasil.

Ildi Silva (Foto: Fernando Torquato)
Ildi Silva: 'Até eu não sei como me definir'
Com a pele negra e os olhos verdes, Ildi disse ter ficado feliz ao ver explicada parte da sua origem, da qual sabia pouco a não ser que tinha alguma ascendência holandesa.

A atriz conta a combinação às vezes confunde as pessoas, que não sabem como defini-la. "Até eu não sei como me definir. Me considero negra, mulata. Branca, não", diz Ildi.

Além dos 71,3% de genes europeus, a atriz tem 19,5% de ancestralidade africana e 9,3% de ameríndia, segundo as estimativas do geneticista Sérgio Danilo Pena, professor titular de bioquímica da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e diretor do laboratório Gene de Belo Horizonte, que fez os exames para a BBC Brasil.

"Sabia que tinha um lado holandês, mas é muita mistura. Meu pai é negro, com olho cor de mel. Minha mãe é mais clara", conta Ildi Silva, nome artístico de Ildimara da Silva e Silva.

Embora esteja hoje no centro da teledramaturgia brasileira, Ildi diz que já teve dificuldades profissionais pelo fato de não ser considerada nem branca nem negra.

"Já tive problema com isso. As pessoas nunca conseguiram me considerar negra. Ao mesmo tempo, tem muito trabalho que eu não faço porque sou negra", disse Ildi.

'Mais normal'

Ela reconhece que a beleza pouco convencional lhe abre portas, mas diz que por outro lado não se encaixa em qualquer papel.

"Às vezes um personagem tem de ser comum. Já me disseram que queriam uma pessoa mais 'normal', mais comum."

Segundo Ildi, a beleza considerada exótica "complica" a história da personagem. "Às vezes é mais fácil colocar uma pessoa mais óbvia."

O geneticista Sérgio Pena também rastreou ancestrais do lado materno e paterno da atriz, comparando seqüências genéticas dela com os cadastrados em bancos de dados internacionais e no do próprio laboratório Gene.

Ao analisar o DNA mitocondrial de Ildi, parte do DNA que, a não ser em casos de mutação, é passada de mãe para filhos praticamente inalterada, Pena identificou o haplogrupo (conjunto de sequências genéticas) L3, visto no leste africano, especialmente no Quênia.

"Seqüências idênticas às de Ildi Silva foram vistas na seguintes populações: Tupuri (Camarões) e Kikuyu (Quênia, África Oriental)", diz o geneticista no seu relatório sobre os resultados da atriz.

No Brasil, o haplogrupo de Ildi só havia sido observado em dois casos isolados no Rio de Janeiro e Porto Alegre.

Pena teve de analisar o DNA de um dos irmãos de Ildi, Helilton da Silva e Silva, já que apenas homens têm o cromossomo Y, usado para rastrear a linhagem paterna.

A análise do DNA de Helilton revelou o haplogrupo I1a "tipicamente europeu e mais característico dos países do norte" e encontrado com grande freqüência na França .

Para Ildi, a ascendência européia por parte de pai foi uma surpresa, já que ela só sabia das origens holandesas do lado materno.

O geneticista Sérgio Pena explica, no entanto, que os testes de ancestralidades materna e paterna revelam apenas o ancestral mais antigo de cada lado.

Daí a importância de se fazer o teste de ancestralidade genômica que tira uma "média" do DNA e estima as porcentagens de ancestralidade africana, européia e ameríndia.

Sérgio Pena calcula em 2,5% a margem de erro dos testes de ancestralidade genômica.

Os homens invisiveis do Brasil

Às
vezes andando nas ruas de Copacabana, me sinto como um fantasma.

Estou ao lado das pessoas, mas percebo que sou uma incômoda presença. Quase os atravesso, q

<>

Cidadãos de bem, velozes, em suas avenidas mentais. O último tênis, o último corte de cabelo, estão apenas cuidando de si. Ilhas e ilhas.

Ah, como queira que aquele menino com suas bolas de tênis nos surpreendesse com a sua habilidade no saibro. Gugas negros.

Somos milhões. E somos etéreos como o ar, por que como maioria, apenas assim podem nos ser indiferentes. Não pesamos quase nada ( e somos milhões!), nos adaptamos a quaisquer situações ("nós faz tudo dotô!).

Cidadãos de bem. Vejo milhares passarem por mim, e mesmo tendo cumprido um verdadeiro roteiro de cinema eu não estou aqui.

Me olho no espelho da vitrine da loja da esquina. Muito jovem, nem mesmo eu me vejo na minha novela das oito.

Afinal quantos protagonistas negros eu já havia visto?

Um segundo, um milímetro e agarro aquela bolsa, dou um piparote naquele guarda, dou um aú e uma rasteira naqule velhinho. Ah, um arrastão! Um mar como eu, em disparada, algazarra, que meninada!

Mais uma vez quase desisto de tudo. Estou descumprindo o papel que está tatuado em minha pele. Sou um marginal. O fato de estar em condicional não altera o meu crime.