segunda-feira, 4 de junho de 2007

ILDI: Ninguém sabe como me definir, diz atriz negra e '70% européia' -Brasiligual sabe: Brasileira!

No Site da BBC.com.br:

A atriz Ildi Silva, que interpreta Yvone na novela Paraíso Tropical, é mais de 70% européia, segundo exames de DNA feitos a pedido da BBC Brasil.

Ildi Silva (Foto: Fernando Torquato)
Ildi Silva: 'Até eu não sei como me definir'
Com a pele negra e os olhos verdes, Ildi disse ter ficado feliz ao ver explicada parte da sua origem, da qual sabia pouco a não ser que tinha alguma ascendência holandesa.

A atriz conta a combinação às vezes confunde as pessoas, que não sabem como defini-la. "Até eu não sei como me definir. Me considero negra, mulata. Branca, não", diz Ildi.

Além dos 71,3% de genes europeus, a atriz tem 19,5% de ancestralidade africana e 9,3% de ameríndia, segundo as estimativas do geneticista Sérgio Danilo Pena, professor titular de bioquímica da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e diretor do laboratório Gene de Belo Horizonte, que fez os exames para a BBC Brasil.

"Sabia que tinha um lado holandês, mas é muita mistura. Meu pai é negro, com olho cor de mel. Minha mãe é mais clara", conta Ildi Silva, nome artístico de Ildimara da Silva e Silva.

Embora esteja hoje no centro da teledramaturgia brasileira, Ildi diz que já teve dificuldades profissionais pelo fato de não ser considerada nem branca nem negra.

"Já tive problema com isso. As pessoas nunca conseguiram me considerar negra. Ao mesmo tempo, tem muito trabalho que eu não faço porque sou negra", disse Ildi.

'Mais normal'

Ela reconhece que a beleza pouco convencional lhe abre portas, mas diz que por outro lado não se encaixa em qualquer papel.

"Às vezes um personagem tem de ser comum. Já me disseram que queriam uma pessoa mais 'normal', mais comum."

Segundo Ildi, a beleza considerada exótica "complica" a história da personagem. "Às vezes é mais fácil colocar uma pessoa mais óbvia."

O geneticista Sérgio Pena também rastreou ancestrais do lado materno e paterno da atriz, comparando seqüências genéticas dela com os cadastrados em bancos de dados internacionais e no do próprio laboratório Gene.

Ao analisar o DNA mitocondrial de Ildi, parte do DNA que, a não ser em casos de mutação, é passada de mãe para filhos praticamente inalterada, Pena identificou o haplogrupo (conjunto de sequências genéticas) L3, visto no leste africano, especialmente no Quênia.

"Seqüências idênticas às de Ildi Silva foram vistas na seguintes populações: Tupuri (Camarões) e Kikuyu (Quênia, África Oriental)", diz o geneticista no seu relatório sobre os resultados da atriz.

No Brasil, o haplogrupo de Ildi só havia sido observado em dois casos isolados no Rio de Janeiro e Porto Alegre.

Pena teve de analisar o DNA de um dos irmãos de Ildi, Helilton da Silva e Silva, já que apenas homens têm o cromossomo Y, usado para rastrear a linhagem paterna.

A análise do DNA de Helilton revelou o haplogrupo I1a "tipicamente europeu e mais característico dos países do norte" e encontrado com grande freqüência na França .

Para Ildi, a ascendência européia por parte de pai foi uma surpresa, já que ela só sabia das origens holandesas do lado materno.

O geneticista Sérgio Pena explica, no entanto, que os testes de ancestralidades materna e paterna revelam apenas o ancestral mais antigo de cada lado.

Daí a importância de se fazer o teste de ancestralidade genômica que tira uma "média" do DNA e estima as porcentagens de ancestralidade africana, européia e ameríndia.

Sérgio Pena calcula em 2,5% a margem de erro dos testes de ancestralidade genômica.

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Os homens invisiveis do Brasil

Às
vezes andando nas ruas de Copacabana, me sinto como um fantasma.

Estou ao lado das pessoas, mas percebo que sou uma incômoda presença. Quase os atravesso, q

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Cidadãos de bem, velozes, em suas avenidas mentais. O último tênis, o último corte de cabelo, estão apenas cuidando de si. Ilhas e ilhas.

Ah, como queira que aquele menino com suas bolas de tênis nos surpreendesse com a sua habilidade no saibro. Gugas negros.

Somos milhões. E somos etéreos como o ar, por que como maioria, apenas assim podem nos ser indiferentes. Não pesamos quase nada ( e somos milhões!), nos adaptamos a quaisquer situações ("nós faz tudo dotô!).

Cidadãos de bem. Vejo milhares passarem por mim, e mesmo tendo cumprido um verdadeiro roteiro de cinema eu não estou aqui.

Me olho no espelho da vitrine da loja da esquina. Muito jovem, nem mesmo eu me vejo na minha novela das oito.

Afinal quantos protagonistas negros eu já havia visto?

Um segundo, um milímetro e agarro aquela bolsa, dou um piparote naquele guarda, dou um aú e uma rasteira naqule velhinho. Ah, um arrastão! Um mar como eu, em disparada, algazarra, que meninada!

Mais uma vez quase desisto de tudo. Estou descumprindo o papel que está tatuado em minha pele. Sou um marginal. O fato de estar em condicional não altera o meu crime.