terça-feira, 24 de julho de 2007

Agora que voce já esqueceu!

Este gesto deveria ser repetido por negros em todas as competições.
Diogo Silva até ser o 1.o atleta a ganhar o ouro do Pan era invisível, parte das estatisticas. Daqui a pouco, pode ser que volte à invisibilidade.
Diogo, você é um exemplo para todos nós, e o seu gesto, suas palavras quando ganhou a medalha de ouro, foram inspiradoras.
Temos que usar cada milimetro na mídia para expressar mais do que a tríade: cerveja, molejo e suor.
Obrigado, campeão!





Campeão no tae-kwon-do defende cotas para negros e critica falta de apoio

Fonte: AgenciaBrasil
16-07-2007 19:30:34 - Brasil - ( Notícias ) - AgenciaBrasil
Um dia após conquistar a primeira medalha de ouro para o Brasil nos Jogos Pan-Americanos, Diogo Silva, atleta do tae-kwon-do, contou que “ralou” bastante até conseguir ser campeão.

Negro, filho de mãe solteira e manicure, Diogo nasceu em 1982 e foi criado num bairro pobre de Campinas, interior de São Paulo. Criança agressiva, foi levada ao tae-kwon-do aos sete anos para “queimar as energias”, após recomendação de um psicólogo. Descobriu o esporte e não parou mais. Tempos depois, fez nova descoberta: o rap, principalmente o do norte-americano Snoop Dogg, do qual tirou inspiração para o cabelo rastafári.

Diante da realidade social e esportiva difícil, que ele resolveu protestar e chamou a atenção da mídia, pela primeira vez, nas Olimpíadas de Atenas, em 2004. Na luta em que perdeu a medalha de bronze, ainda no tatame ele levantou o punho cerrado, seguindo um célebre cumprimento dos Panteras Negras, expoente do movimento black power, e usado pelos velocistas negros dos Estados Unidos, nas Olimpíadas de 1968 no México. À época, os atletas norte-americanos Tommie Smith e John Carlos foram impedidos de participar dos jogos novamente.

Segundo Diogo Silva, o gesto em Atenas foi para levantar questões de discriminação racial no país e para protestar contra as condições de treinamento na modalidade.

A favor das cotas para negros nas universidades, o lutador faz parte do movimento hip-hop de Campinas. Faz sempre questão de expôr sua visão crítica do mundo, e acha que os atletas brasileiros deveriam ter essa preocupação. “O esporte e a política caminham juntos, e os atletas precisam ter uma visão crítica. O Brasil precisa de boas referências”, destacou.A sua conquista foi dedicada aos companheiros da delegação brasileira de tae-kwon-do, que sofrem com a falta de patrocínio e com o “descaso" da Confederação Brasileira de Tae-Kwon-Do, responsável pela regulação oficial da modalidade e pelos repasses de recursos a atletas. “O nosso passado não é muito diferente do nosso presente. A maior dificuldade é financeira. Muitos atletas têm que custear a prática do esporte com o dinheiro do próprio bolso. Espero que, com essas medalhas no Pan [o tae-kwon-do ganhou também uma de prata, com Márcio Wenceslau], a gente consiga atrair mais público e patrocínios”, assinalou.

Para chegar a medalha de ouro, Diogo tirou dinheiro do próprio bolso. No início deste ano, gastou os R$ 5 mil que tinha separado para comprar um carro, para viajar à Bélgica e fazer sua preparação para os jogos do Rio de Janeiro. “Por diversas vezes pensei em desistir, porque já não tinha condições de me manter no esporte. Precisei me manter forte, não fraquejar. Essa foi minha maior barreira para chegar até aqui”, frisou.

Na noite de ontem (15), depois da vitória, ele conta que foi difícil “pregar” o olho para dormir. Colocou a medalha na cabeceira da cama, “para sonhar um pouco”, e ficou admirando o brilho do ouro, “meio extasiado”. “Pensei na minha mãe, que foi fundamental na minha vida. Pensei, também, que a minha maior vitória é a persistência, por saber que muitos ao meu redor desistiram, caíram, e eu continuo de pé”, finalizou.

Com sua cabeleira rastafári, seu sorriso fácil, Diogo Silva vive com R$ 600,00 por mês, pagos pela Confederação Brasileira de Tae-Kwon-Do. Pela manhã de hoje (16), viveu um dia cercado por fãs e atendeu a todos com carinho. Em meio ao tumulto, alguém deu a idéia para organizar a bagunça: formou-se então uma fila para fotos e autógrafos. Sempre simpático e atencioso, o atleta não tirava o sorriso do rosto.
Sinto muito orgulho do que está acontecendo agora na minha vida. Sou um atleta que ralou muito para poder estar recebendo esse carinho do público. Esta é minha gratificação”, disse ainda emocionado Diogo. Ontem, enrolado na bandeira do Brasil, chorou durante a execução do Hino Nacional, após vencer o peruano Peter Lopez na categoria até 68 quilos.

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Os homens invisiveis do Brasil

Às
vezes andando nas ruas de Copacabana, me sinto como um fantasma.

Estou ao lado das pessoas, mas percebo que sou uma incômoda presença. Quase os atravesso, q

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Cidadãos de bem, velozes, em suas avenidas mentais. O último tênis, o último corte de cabelo, estão apenas cuidando de si. Ilhas e ilhas.

Ah, como queira que aquele menino com suas bolas de tênis nos surpreendesse com a sua habilidade no saibro. Gugas negros.

Somos milhões. E somos etéreos como o ar, por que como maioria, apenas assim podem nos ser indiferentes. Não pesamos quase nada ( e somos milhões!), nos adaptamos a quaisquer situações ("nós faz tudo dotô!).

Cidadãos de bem. Vejo milhares passarem por mim, e mesmo tendo cumprido um verdadeiro roteiro de cinema eu não estou aqui.

Me olho no espelho da vitrine da loja da esquina. Muito jovem, nem mesmo eu me vejo na minha novela das oito.

Afinal quantos protagonistas negros eu já havia visto?

Um segundo, um milímetro e agarro aquela bolsa, dou um piparote naquele guarda, dou um aú e uma rasteira naqule velhinho. Ah, um arrastão! Um mar como eu, em disparada, algazarra, que meninada!

Mais uma vez quase desisto de tudo. Estou descumprindo o papel que está tatuado em minha pele. Sou um marginal. O fato de estar em condicional não altera o meu crime.