Existe preconceito racial no Brasil?
09/07/2006
Existe preconceito racial no Brasil?
Para todos que genuinamente possuem esta dúvida, busquem a resposta. Seguem Extratos da Revista TAM 2001 - Almanque Brasil de Cultura Popular
Entrevista com Benedita da Silva (ex-senadora), Nei Lopes (cantor, compositor e escritor) e Thereza Santos (socióloga):
Quais os maiores males deixados pela herança escravocrata?
Benedita - A descrença, a desfaçatez e o mito da democracia racial.
Nei - A desqualificação do que vem da matriz africana. Práticas culturais foram caracterizadas como retrógradas, até nocivas: a música, como monótona e lasciva; a religiosidade, como conjunto de superstições; a medicina, como anti-higiênica e inócua. Outro mal é a ocultação da presença negra. Por exemplo, no dicionário Larousse, o cantor Al Jonson é "americano de origem judaica", como o compositor Gershwin. No Brasil, raramente figuram personagens realçados em sua circunstância étnica. A pista para você identificá-los é a rubrica "nascido em lar humilde". O requinte foi o retrato americano: por meio de pintura sobre fotografia , o fotógrafo "embelezava" o retratado, pelo clareamente da pele e alisamento de cabelo. Nos livros de história vêe-se reproduções desses retratos.
Thereza - É a sociedade continuar se recusando aceitar que saímos do estado de objeto para o de sujeito, Todos os outros males são consequencia.
A discriminação racial é ilegal desde 1951 graças à lei Afonso Arinos. Como explicar que o racismo ainda atue?
Benedita - É que não basta apenas a lei. Vale lembrar que a lei Afonso Arinos atenuava; e a Lei Caó torna crime o racismo desde 1988.
Nei - Até a década de 1960, a Polícia do Exército, no Rio, recrutava no sul soldados altos, louros e de olhos claros, aqui apelidados catarinas, para reprimir os soldados comuns, geralmente suburbanos, pretos e mestiços. O fator étnico aí entrava como dado de superiodade. Foi uma das práticas mais hediondas do Estado brasileiro. Hoje, coisas tão explícitas não passariam despercebidas. Mas o "racismo amigável" continua, porque a intelligentsia e a mídia colonizadas fazem questão de negar o pluralismo brasileiro.
Thereza - De cada cinquenta processos que abrimos contra discriminação vencemos um. Pensávamos que a Lei Caó nos daria maior força. Quem aplica a lei em geral é tão racista quanto quem pratica o crime. A Constituição assegura o direito à discriminação e ao preconceito porque assegura que somos todos iguais perante a lei "que não funciona". Como estratégia, nada mais perfeito.
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