quinta-feira, 12 de abril de 2007

Existe preconceito racial no Brasil?

09/07/2006

Existe preconceito racial no Brasil?

Para todos que genuinamente possuem esta dúvida, busquem a resposta. Seguem Extratos da Revista TAM 2001 - Almanque Brasil de Cultura Popular

Entrevista com Benedita da Silva (ex-senadora), Nei Lopes (cantor, compositor e escritor) e Thereza Santos (socióloga):

Quais os maiores males deixados pela herança escravocrata?

Benedita - A descrença, a desfaçatez e o mito da democracia racial.

Nei - A desqualificação do que vem da matriz africana. Práticas culturais foram caracterizadas como retrógradas, até nocivas: a música, como monótona e lasciva; a religiosidade, como conjunto de superstições; a medicina, como anti-higiênica e inócua. Outro mal é a ocultação da presença negra. Por exemplo, no dicionário Larousse, o cantor Al Jonson é "americano de origem judaica", como o compositor Gershwin. No Brasil, raramente figuram personagens realçados em sua circunstância étnica. A pista para você identificá-los é a rubrica "nascido em lar humilde". O requinte foi o retrato americano: por meio de pintura sobre fotografia , o fotógrafo "embelezava" o retratado, pelo clareamente da pele e alisamento de cabelo. Nos livros de história vêe-se reproduções desses retratos.

Thereza - É a sociedade continuar se recusando aceitar que saímos do estado de objeto para o de sujeito, Todos os outros males são consequencia.

A discriminação racial é ilegal desde 1951 graças à lei Afonso Arinos. Como explicar que o racismo ainda atue?

Benedita - É que não basta apenas a lei. Vale lembrar que a lei Afonso Arinos atenuava; e a Lei Caó torna crime o racismo desde 1988.

Nei - Até a década de 1960, a Polícia do Exército, no Rio, recrutava no sul soldados altos, louros e de olhos claros, aqui apelidados catarinas, para reprimir os soldados comuns, geralmente suburbanos, pretos e mestiços. O fator étnico aí entrava como dado de superiodade. Foi uma das práticas mais hediondas do Estado brasileiro. Hoje, coisas tão explícitas não passariam despercebidas. Mas o "racismo amigável" continua, porque a intelligentsia e a mídia colonizadas fazem questão de negar o pluralismo brasileiro.

Thereza - De cada cinquenta processos que abrimos contra discriminação vencemos um. Pensávamos que a Lei Caó nos daria maior força. Quem aplica a lei em geral é tão racista quanto quem pratica o crime. A Constituição assegura o direito à discriminação e ao preconceito porque assegura que somos todos iguais perante a lei "que não funciona". Como estratégia, nada mais perfeito.

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Os homens invisiveis do Brasil

Às
vezes andando nas ruas de Copacabana, me sinto como um fantasma.

Estou ao lado das pessoas, mas percebo que sou uma incômoda presença. Quase os atravesso, q

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Cidadãos de bem, velozes, em suas avenidas mentais. O último tênis, o último corte de cabelo, estão apenas cuidando de si. Ilhas e ilhas.

Ah, como queira que aquele menino com suas bolas de tênis nos surpreendesse com a sua habilidade no saibro. Gugas negros.

Somos milhões. E somos etéreos como o ar, por que como maioria, apenas assim podem nos ser indiferentes. Não pesamos quase nada ( e somos milhões!), nos adaptamos a quaisquer situações ("nós faz tudo dotô!).

Cidadãos de bem. Vejo milhares passarem por mim, e mesmo tendo cumprido um verdadeiro roteiro de cinema eu não estou aqui.

Me olho no espelho da vitrine da loja da esquina. Muito jovem, nem mesmo eu me vejo na minha novela das oito.

Afinal quantos protagonistas negros eu já havia visto?

Um segundo, um milímetro e agarro aquela bolsa, dou um piparote naquele guarda, dou um aú e uma rasteira naqule velhinho. Ah, um arrastão! Um mar como eu, em disparada, algazarra, que meninada!

Mais uma vez quase desisto de tudo. Estou descumprindo o papel que está tatuado em minha pele. Sou um marginal. O fato de estar em condicional não altera o meu crime.