quarta-feira, 25 de abril de 2007

Somos igulamente representados?

Em http://www.senado.gov.br


"Carregam o piano"

Durante a entrevista, o senador Paim conseguiu citar de memória apenas cinco deputados e ele próprio como os únicos negros no Congresso Nacional. Os deputados são Luiz Alberto (PT-BA), Reginaldo Germano (PP-BA), Vicentinho (PT-SP), João Grandão (PT-MS) eAlceu Collares (PDT-RS).

- Estou com dificuldade para lembrar de meia dúzia - disse Paim, ao enumerar a bancada da Câmara.

Embora o Congresso tenha a bancada ruralista, a bancada evangélica, a bancada da saúde, a sindicalista, a dos empresários e várias outras, não há, observou Paim, uma forte bancada dos negros.Perguntado sobre qual é a causa dessa sub-representação dos negros, afirmou:

- A comunidade negra é chamada a carregar o piano, mas não pode tocar nem dançar no baile. Quero dizer com isso que os negros são chamados a votar, a fazer campanha, mas não há incentivo para que eles sejam candidatos. Há muita gente que se diz do lado dos negros, mas para que os negros votem nele; não para votar em negros - afirmou.

Os brancos são maioria no Congresso, embora representando 52% da população. Se os negros e mulatos estivessem representados na Câmara dos Deputados em número igual ao de sua porcentagem na população geral, haveria 236 deputados negros e mulatos, escreve Johnson III.

A visível ascendência africana não classifica um parlamentar como negro, na opinião de Paim. Muitos mestiços e mulatos não assumem a origem africana, segundo o senador.

- Para ser um parlamentar negro, ele tem que se assumir como negro. Se não assumir a causa negra, ele não é um parlamentar negro, porque não representa o negro no Congresso, não debate, não encaminha, não faz nada em defesa dos negros. A miscigenação no Brasil é muito forte e o estigma contra o negro também - disse.

Na interpretação do senador, uma das causas dessa sub-representação dos negros é a questão econômica. Ele ressaltou que a comunidade negra é mais pobre, estando, em sua maioria, "na base da pirâmide".

- Mesmo na fábrica, os operários brancos têm salário melhor; os mais pobres são os negros. Existem brancos tão pobres quanto ele, mas a maioria dos mais pobres é negra, por isso a ascensão política dos brancos é maior. Como é que o negro vai poder fazer campanha? - perguntou o senador.

Paim ressaltou que essa situação vem desde a escravidão, "um sacrifício passado de pai para filho".

- Como lá atrás foi sacrificado, tem dificuldade para acompanhar o crescimento econômico. Não que seja menos competente; essa não é a questão - frisou.

O senador disse ter ouvido de integrantes de uma delegação de Moçambique no Brasil a observação de que eles não viram negros no agronegócio.

- Ora, agronegócio é para os donos de terra e a terra é dos brancos desde a escravidão - disse o senador."


(...)

Estatuto promove igualdade racial

Tramita na Câmara dos Deputados, depois de aprovado em decisão terminativa pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado, a proposta do senador Paulo Paim (PT-RS) que institui o Estatuto da Igualdade Racial (PLS 213/03) . O estatuto contém mecanismos para a promoção da igualdade racial, inclusive nos meios de comunicação.

Os filmes e programas veiculados pelas emissoras de televisão deverão apresentar imagens de pessoas afrodescendentes em proporção não inferior a 25% dos atores, As peças publicitárias para televisão e em salas de cinema deverão apresentar imagens de pessoas afrodescendentes em proporção não inferior a 40% do total de atores.

Para ampliar a participação política, cada partido ou coligação deverá reservar o mínimo de 30% para candidaturas afrodescendentes. Com o objetivo de ampliar o mercado de trabalho, empresas com mais de 20 empregados poderão receber, por meio de lei específica, incentivos fiscais se mantiverem uma cota de, no mínimo, 20% para trabalhadores negros.

É garantido às vítimas de discriminação racial o acesso gratuito à Ouvidoria Permanente do Congresso Nacional, à Defensoria Pública, ao Ministério Público e ao Poder Judiciário em todas as suas instâncias, para a garantia do cumprimento de seus direitos.

O projeto também assegura tramitação preferencial aos processos judiciais movidos por discriminados racialmente em todas as instâncias judiciárias. De acordo com o texto, todos têm o dever de denunciar à autoridade competente qualquer forma de negligência, discriminação ou opressão que tenham testemunhado ou sobre as quais tenham tomado conhecimento, diz o Estatuto.

O substitutivo de Tourinho mantém os principais pontos propostos por Paim e prevê a criação do Fundo de Promoção da Igualdade Racial, que tem como objetivo financiar as ações de acesso dos negros à Justiça. Outra inovação é a definição de marcos para o reconhecimento de terras ocupadas pelos remanescentes dos quilombos."

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Os homens invisiveis do Brasil

Às
vezes andando nas ruas de Copacabana, me sinto como um fantasma.

Estou ao lado das pessoas, mas percebo que sou uma incômoda presença. Quase os atravesso, q

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Cidadãos de bem, velozes, em suas avenidas mentais. O último tênis, o último corte de cabelo, estão apenas cuidando de si. Ilhas e ilhas.

Ah, como queira que aquele menino com suas bolas de tênis nos surpreendesse com a sua habilidade no saibro. Gugas negros.

Somos milhões. E somos etéreos como o ar, por que como maioria, apenas assim podem nos ser indiferentes. Não pesamos quase nada ( e somos milhões!), nos adaptamos a quaisquer situações ("nós faz tudo dotô!).

Cidadãos de bem. Vejo milhares passarem por mim, e mesmo tendo cumprido um verdadeiro roteiro de cinema eu não estou aqui.

Me olho no espelho da vitrine da loja da esquina. Muito jovem, nem mesmo eu me vejo na minha novela das oito.

Afinal quantos protagonistas negros eu já havia visto?

Um segundo, um milímetro e agarro aquela bolsa, dou um piparote naquele guarda, dou um aú e uma rasteira naqule velhinho. Ah, um arrastão! Um mar como eu, em disparada, algazarra, que meninada!

Mais uma vez quase desisto de tudo. Estou descumprindo o papel que está tatuado em minha pele. Sou um marginal. O fato de estar em condicional não altera o meu crime.