Somos assim: cordiais?
Em BBC Brasil:
Polêmica racial desmascara ilusão de harmonia, diz antropólogo
Para antropólogo, reação à fala de ministra não surpreende |
"É como se houvesse um acordo tácito e todos falassem de maneira mais harmoniosa, cautelosas em emitir opiniões sobre o assunto", afirmou Pereira, professor de Antropologia da Universidade de São Paulo (USP) e do Mackenzie e autor de vários livros sobre racismo.
Para o antropólogo, a sociedade brasileira vive na ilusão de uma democracia plena, onde todos convivem em harmonia e as diferenças nunca são explicitadas.
"A fala dela de certa maneira choca por causa disso. Porque desafia este clima muito melindroso, no qual as pessoas entram com muita cautela", diz.
Cautela
Até mesmo no movimento negro, analisa Pereira, o discurso é cauteloso, apenas de reivindicação e de igualdade, sem confronto.
"Não tem uma retórica racista de agressão ao branco. Pelo menos eles não expressam isso. Não é de bom tom", afirma.
"A ministra Matilde começou a falar em uma linguagem que, no Brasil, é tida como um pouco politicamente incorreta", diz. "Este tipo de coisa pode criar uma impressão muito ruim a este Brasil que busca harmonia, e não ódio racial."
A ministra disse à BBC Brasil que entende e considera natural que um negro não queira conviver com um branco porque "quem foi açoitado a vida inteira não tem obrigação de gostar de quem o açoitou".
A entrevista da ministra provocou debate, mas também uma forte reação de condenação às declarações de Matilde Ribeiro. A reação não surpreendeu o especialista. "É mais ou menos o que a gente encontra (em pesquisas). As pessoas condenam este tipo de atitude", afirmou.
Pereira diz que pesquisas de sua autoria e de outras fontes mostram que o brasileiro acredita que existe que racismo no país, mas não se coloca como racista.
O mesmo ocorre, afirma o antropólogo, com as vítimas do racismo: normalmente, as pessoas dizem que o problema existe, mas nunca se colocam como vítimas.
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