quarta-feira, 18 de abril de 2007

Raça e desigualdade entre as mulheres: um exemplo no sul do Brasil

Maria Teresa Anselmo Olinto 1,2
Beatriz Anselmo Olinto 3


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Introdução

As desigualdades sociais entre as regiões do Brasil têm sido amplamente descritas. Diversos trabalhos apontam para melhores indicadores nas regiões Sul e Sudeste comparado com o restante do país. O Sul, por exemplo, apresenta a maior esperança de vida ao nascer, menor mortalidade infantil e uma das menores taxas de analfabetismo do país. Esses dados têm sido analisados, na maioria das vezes, como expressão de uma suposta melhor qualidade de vida na Região Sul.

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Metodologia

A partir de uma amostra de 2.779 mulheres de 15 a 49 anos, residentes na zona urbana da cidade de Pelotas, foram estudados os diferenciais sócio-econômicos, demográficos e reprodutivos segundo a "raça".

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Resultados

Foram estudadas 2.779 mulheres, sendo destas 2.350 (84,6%) brancas, 215 (7,7%) "pardas" e 214 (7,7%) negras. A Tabela 1 apresenta algumas características sócio-econômicas e demográficas segundo a raça. Como seria esperado devido ao processo amostral, não houve diferença significativa entre a idade média de cada grupo de raça. Em relação à escolaridade e à renda familiar constatou-se diferenças estatisticamente significativas e com tendência linear. As mulheres brancas apresentaram em média 8,8 anos de escolaridade, valor superior tanto para as mulheres "pardas" (6,9), como para as negras (6,6). A renda familiar evidenciou mais esses diferenciais, as mulheres brancas apresentavam renda familiar cerca de 1,5 vezes maior do que as pardas e 2,5 maior do que as negras. Ainda é possível observar que, embora em Pelotas 95% dos domicílios disponham de água dentro de casa, para as mulheres negras esse índice caiu para 82%. O porcentual de domicílios apresentando sanitário com descarga, foi de 95,7%, 85,9% e 80,4%, respectivamente, para aqueles nos quais residiam mulheres brancas, "pardas" e negras.

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Discussão

A opção pela análise de desigualdades e também pelo viés das relações raciais vem lançar um olhar sobre uma questão respondida por muito tempo pelos mitos de "democracia racial" - o silêncio imposto sobre o preconceito racial no país (Munanga, 1996). Não pretendeu-se aqui analisar o referido mito, nem como um instrumento ideológico e nem buscar as suas re-significações cotidianas, mas sim, demonstrar através de dados epidemiológicos, quais as proporções sócio-econômicas das distinções criadas pelo racismo contemporizador da sociedade brasileira (Pereira, 1996).

Tem-se consciência que os resultados deste estudo são apenas uma pequena parte do abismo social e econômico existente entre "raças" no Brasil. Embora com as limitações da variável "raça" utilizada neste estudo foi possível mostrar alguns diferenciais importantes que permeiam a sociedade pesquisada.

Como um país que recebeu imigrantes das mais variadas regiões do mundo, a população brasileira vem sendo identificada como miscigenada. Dentro destas condições, os processos de identificação das diferenças entre grupos humanos, passam pelas diferenças fenótipas e culturais, sempre de maneira relacional em construções dinâmicas de "nós" e "outros" (Poutignat, 1998). Assim a composição da categorização das entrevistadas em "brancas", "pardas" e "negras" deve ser considerada a partir do contexto sócio-cultural das entrevistadoras e não como categorias fechadas.

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Os homens invisiveis do Brasil

Às
vezes andando nas ruas de Copacabana, me sinto como um fantasma.

Estou ao lado das pessoas, mas percebo que sou uma incômoda presença. Quase os atravesso, q

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Cidadãos de bem, velozes, em suas avenidas mentais. O último tênis, o último corte de cabelo, estão apenas cuidando de si. Ilhas e ilhas.

Ah, como queira que aquele menino com suas bolas de tênis nos surpreendesse com a sua habilidade no saibro. Gugas negros.

Somos milhões. E somos etéreos como o ar, por que como maioria, apenas assim podem nos ser indiferentes. Não pesamos quase nada ( e somos milhões!), nos adaptamos a quaisquer situações ("nós faz tudo dotô!).

Cidadãos de bem. Vejo milhares passarem por mim, e mesmo tendo cumprido um verdadeiro roteiro de cinema eu não estou aqui.

Me olho no espelho da vitrine da loja da esquina. Muito jovem, nem mesmo eu me vejo na minha novela das oito.

Afinal quantos protagonistas negros eu já havia visto?

Um segundo, um milímetro e agarro aquela bolsa, dou um piparote naquele guarda, dou um aú e uma rasteira naqule velhinho. Ah, um arrastão! Um mar como eu, em disparada, algazarra, que meninada!

Mais uma vez quase desisto de tudo. Estou descumprindo o papel que está tatuado em minha pele. Sou um marginal. O fato de estar em condicional não altera o meu crime.