Raça e desigualdade entre as mulheres: um exemplo no sul do Brasil
Maria Teresa Anselmo Olinto 1,2 |
Introdução
As desigualdades sociais entre as regiões do Brasil têm sido amplamente descritas. Diversos trabalhos apontam para melhores indicadores nas regiões Sul e Sudeste comparado com o restante do país. O Sul, por exemplo, apresenta a maior esperança de vida ao nascer, menor mortalidade infantil e uma das menores taxas de analfabetismo do país. Esses dados têm sido analisados, na maioria das vezes, como expressão de uma suposta melhor qualidade de vida na Região Sul.
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Metodologia
A partir de uma amostra de 2.779 mulheres de 15 a 49 anos, residentes na zona urbana da cidade de Pelotas, foram estudados os diferenciais sócio-econômicos, demográficos e reprodutivos segundo a "raça".
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Resultados
Foram estudadas 2.779 mulheres, sendo destas 2.350 (84,6%) brancas, 215 (7,7%) "pardas" e 214 (7,7%) negras. A Tabela 1 apresenta algumas características sócio-econômicas e demográficas segundo a raça. Como seria esperado devido ao processo amostral, não houve diferença significativa entre a idade média de cada grupo de raça. Em relação à escolaridade e à renda familiar constatou-se diferenças estatisticamente significativas e com tendência linear. As mulheres brancas apresentaram em média 8,8 anos de escolaridade, valor superior tanto para as mulheres "pardas" (6,9), como para as negras (6,6). A renda familiar evidenciou mais esses diferenciais, as mulheres brancas apresentavam renda familiar cerca de 1,5 vezes maior do que as pardas e 2,5 maior do que as negras. Ainda é possível observar que, embora em Pelotas 95% dos domicílios disponham de água dentro de casa, para as mulheres negras esse índice caiu para 82%. O porcentual de domicílios apresentando sanitário com descarga, foi de 95,7%, 85,9% e 80,4%, respectivamente, para aqueles nos quais residiam mulheres brancas, "pardas" e negras.
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Discussão
A opção pela análise de desigualdades e também pelo viés das relações raciais vem lançar um olhar sobre uma questão respondida por muito tempo pelos mitos de "democracia racial" - o silêncio imposto sobre o preconceito racial no país (Munanga, 1996). Não pretendeu-se aqui analisar o referido mito, nem como um instrumento ideológico e nem buscar as suas re-significações cotidianas, mas sim, demonstrar através de dados epidemiológicos, quais as proporções sócio-econômicas das distinções criadas pelo racismo contemporizador da sociedade brasileira (Pereira, 1996).
Tem-se consciência que os resultados deste estudo são apenas uma pequena parte do abismo social e econômico existente entre "raças" no Brasil. Embora com as limitações da variável "raça" utilizada neste estudo foi possível mostrar alguns diferenciais importantes que permeiam a sociedade pesquisada.
Como um país que recebeu imigrantes das mais variadas regiões do mundo, a população brasileira vem sendo identificada como miscigenada. Dentro destas condições, os processos de identificação das diferenças entre grupos humanos, passam pelas diferenças fenótipas e culturais, sempre de maneira relacional em construções dinâmicas de "nós" e "outros" (Poutignat, 1998). Assim a composição da categorização das entrevistadas em "brancas", "pardas" e "negras" deve ser considerada a partir do contexto sócio-cultural das entrevistadoras e não como categorias fechadas.
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