Para negros, mais estudo é menos emprego
São Paulo, 09/06/2004
Para negros, mais estudo é menos emprego
Estudo do IBGE aponta que, entre as pessoas de cor preta e parda, os desempregados têm escolaridade maior que os que trabalham
da PrimaPagina
Quanto mais anos de estudos tiver um trabalhador, maior a chance de ele estar empregado. Embora possa parecer verdade universal, esse preceito não vale para brasileiros de cor preta e parda. De acordo com estudo divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), os negros desempregados têm, em média, mais tempo de estudo que os negros empregados — o que não acontece entre os brancos.
Segundo o estudo Características da População em Idade Ativa Segundo a Cor ou Raça nas Seis Regiões Metropolitanas, os negros ocupados estudaram 7,7 anos e os desempregados, 8,0 anos. Os trabalhadores brancos têm mais tempo de estudo, estejam eles empregados (9,8 anos) ou procurando emprego (9,5 anos).
A pesquisa foi feita nas seis maiores regiões metropolitanas do país. Só em uma delas, a de Salvador (BA), os negros empregados acumulam mais anos de estudo que os desempregados (8,4 contra 8,2). Na região de Porto Alegre, não há diferença entre os dois grupos de negros (ambos estudaram, em média, 7,4 anos). A discrepância se manifesta nas regiões metropolitanas de Recife, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo. O estudo do IBGE também mostra que o desemprego é maior entre os negros e a renda, menor.
“Não é verdade que, no Brasil, a escolaridade seja para os negros sinônimo de alocação no mercado de trabalho, e muito menos de remuneração igual à de um empregado branco com a mesma escolaridade”, observa a historiadora Wania Sant’Anna, especializada em questões raciais.
Na avaliação de Neide Aparecida Fonseca, presidenta (ela faz questão desse “a” no final da palavra) do Instituto Sindical Interamericano pela Igualdade Racial (Inspir), a diferença apontada pelo IBGE indica que o negro com mais tempo de estudo enfrenta mais dificuldade em conseguir postos de trabalho condizentes com sua formação.
“Ainda predomina uma mentalidade de que nos postos mais elevados não pode haver negros, que os negros servem é para trabalhos manuais, menos qualificados”, comenta. “Para os negros, no Brasil o investimento em educação não resulta em ampliação de renda necessariamente. Mais uma vez, encontramos o fenômeno de alocação de mão de obra negra em postos de trabalho sem prestígio e de baixa remuneração”, concorda Wania.
Segundo Neide, os dados sugerem também que apenas uma política de cotas em universidades públicas não resolve a disparidade no mercado de trabalho: é preciso uma política afirmativa que influa no próprio mercado. Ela defende incentivos fiscais para empresas que, em toda a estrutura hierárquica, apresentarem uma proporção de negros semelhante à da população da cidade ou do bairro em que está instalada.
O PNUD Brasil desenvolve um projeto, em parceria com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), que visa justamente produzir conhecimento e fomentar o debate para combater e superar o racismo. O projeto chama-se Combate ao Racismo e Superação das Desigualdades Sociais.
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