quinta-feira, 12 de abril de 2007

Para negros, mais estudo é menos emprego

São Paulo, 09/06/2004
Para negros, mais estudo é menos emprego
Estudo do IBGE aponta que, entre as pessoas de cor preta e parda, os desempregados têm escolaridade maior que os que trabalham

Crédito: Sindipetro Duque de Caxias/Divulgação
RICARDO MEIRELLES
da PrimaPagina

Quanto mais anos de estudos tiver um trabalhador, maior a chance de ele estar empregado. Embora possa parecer verdade universal, esse preceito não vale para brasileiros de cor preta e parda. De acordo com estudo divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), os negros desempregados têm, em média, mais tempo de estudo que os negros empregados — o que não acontece entre os brancos.

Segundo o estudo Características da População em Idade Ativa Segundo a Cor ou Raça nas Seis Regiões Metropolitanas, os negros ocupados estudaram 7,7 anos e os desempregados, 8,0 anos. Os trabalhadores brancos têm mais tempo de estudo, estejam eles empregados (9,8 anos) ou procurando emprego (9,5 anos).

A pesquisa foi feita nas seis maiores regiões metropolitanas do país. Só em uma delas, a de Salvador (BA), os negros empregados acumulam mais anos de estudo que os desempregados (8,4 contra 8,2). Na região de Porto Alegre, não há diferença entre os dois grupos de negros (ambos estudaram, em média, 7,4 anos). A discrepância se manifesta nas regiões metropolitanas de Recife, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo. O estudo do IBGE também mostra que o desemprego é maior entre os negros e a renda, menor.

“Não é verdade que, no Brasil, a escolaridade seja para os negros sinônimo de alocação no mercado de trabalho, e muito menos de remuneração igual à de um empregado branco com a mesma escolaridade”, observa a historiadora Wania Sant’Anna, especializada em questões raciais.

Na avaliação de Neide Aparecida Fonseca, presidenta (ela faz questão desse “a” no final da palavra) do Instituto Sindical Interamericano pela Igualdade Racial (Inspir), a diferença apontada pelo IBGE indica que o negro com mais tempo de estudo enfrenta mais dificuldade em conseguir postos de trabalho condizentes com sua formação.

“Ainda predomina uma mentalidade de que nos postos mais elevados não pode haver negros, que os negros servem é para trabalhos manuais, menos qualificados”, comenta. “Para os negros, no Brasil o investimento em educação não resulta em ampliação de renda necessariamente. Mais uma vez, encontramos o fenômeno de alocação de mão de obra negra em postos de trabalho sem prestígio e de baixa remuneração”, concorda Wania.

Segundo Neide, os dados sugerem também que apenas uma política de cotas em universidades públicas não resolve a disparidade no mercado de trabalho: é preciso uma política afirmativa que influa no próprio mercado. Ela defende incentivos fiscais para empresas que, em toda a estrutura hierárquica, apresentarem uma proporção de negros semelhante à da população da cidade ou do bairro em que está instalada.

O PNUD Brasil desenvolve um projeto, em parceria com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), que visa justamente produzir conhecimento e fomentar o debate para combater e superar o racismo. O projeto chama-se Combate ao Racismo e Superação das Desigualdades Sociais.

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Os homens invisiveis do Brasil

Às
vezes andando nas ruas de Copacabana, me sinto como um fantasma.

Estou ao lado das pessoas, mas percebo que sou uma incômoda presença. Quase os atravesso, q

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Cidadãos de bem, velozes, em suas avenidas mentais. O último tênis, o último corte de cabelo, estão apenas cuidando de si. Ilhas e ilhas.

Ah, como queira que aquele menino com suas bolas de tênis nos surpreendesse com a sua habilidade no saibro. Gugas negros.

Somos milhões. E somos etéreos como o ar, por que como maioria, apenas assim podem nos ser indiferentes. Não pesamos quase nada ( e somos milhões!), nos adaptamos a quaisquer situações ("nós faz tudo dotô!).

Cidadãos de bem. Vejo milhares passarem por mim, e mesmo tendo cumprido um verdadeiro roteiro de cinema eu não estou aqui.

Me olho no espelho da vitrine da loja da esquina. Muito jovem, nem mesmo eu me vejo na minha novela das oito.

Afinal quantos protagonistas negros eu já havia visto?

Um segundo, um milímetro e agarro aquela bolsa, dou um piparote naquele guarda, dou um aú e uma rasteira naqule velhinho. Ah, um arrastão! Um mar como eu, em disparada, algazarra, que meninada!

Mais uma vez quase desisto de tudo. Estou descumprindo o papel que está tatuado em minha pele. Sou um marginal. O fato de estar em condicional não altera o meu crime.